O arquivo é parte integrante da nossa identidade enquanto indivíduo ou colectivo, é um universo pelo qual a memória se organiza e
mantém presente traços do passado. O arquivo conecta-nos e define-nos, enquanto mediador (re)ativo da memória cultural.
Embora, tradicionalmente, seja entendido como um espaço inerte e inativo, pela sua prática intrínseca de arquivar e armazenar,
o arquivo é, e deve ser, percepcionado para lá de um simples repositório. Quanto mais nos aproximamos e observamos a sua estrutura
e mecânica, percebemos que interpretar o arquivo como um espaço de armazenamento passivo torna-se redutor. A criação de narrativas
é o cerne do arquivo, sendo um universo permeável e passível de (re)interpretações e de, assim, gerar novas leituras. A exploração
e manipulação dos seus elementos reconfigura o arquivo e torna-o vivo. É nesta dimensão, que o arquivo manifesta a sua pluralidade
e potencialidade, sem o diminuir ou destruir, e prevalece à ideia de inércia.
Shaping Memories procura (re)pensar o arquivo, reconhecendo o seu valor mediador, ao reconfigurar
seus elementos formais e, assim, reproduzir de forma dinâmica novas leituras e significados do arquivo. O projecto consiste
num arquivo digital que agrega projectos desenvolvidos na área Design de Comunicação da Faculdade de Belas-Artes da Universidade
de Lisboa. A exploração dinâmica do conteúdo gerada pelos filtros de pesquisa permite diferentes interacções com o arquivo,
conjugadas com os diferentes tipos de visualização e grelha mutável. Esta dinâmica de exploração promove novas leituras do
conteúdo e emancipa o arquivo para lá da sua condição estática.
Isabel Cunha
Project II / Mestrado Design de Comunicação Faculdade de Belas-Artes Universidade de Lisboa / 2020